Fiquei a chorar durante algum tempo, não sei dizer
quanto tempo, porque não contei. Basta dizer que chorei até já não ter lágrimas
e não ter assunto para chorar. O coração voltara a bater como é normal, o
sangue estava já quente, mas o buraco ainda cá estava. Um buraco muito grande e
profundo, mais profundo que m poço.
Ele estava comigo, porque eu tinha a alma de uma
antiga rapariga que ele amara e que o abandonou. Que haveria eu de fazer? E se
fosse verdade? Não o podia abandonar, pois não queria parecer a outra e não
conseguia viver sem ele. Talvez seja mentira. Seria muito bom, pois já não
tinha que me zangar ou separar dele. Teria de se explicar. É que ele nem
respondeu, "Sim" ou "Não".
- Queres um
explicação. E tens todo o direito em pedir uma explicação - Afirmou Rodrigo, de
repente.
Olhei para o lado, e lá estava ele. Com um ombro
encostado na árvore, os braços cruzados e cara sobre o ombro, que estava
encostado na árvore. No olhar lia - se a culpa de não me ter contado e a mágoa
que ele sentia, por si mesmo e por me ter magoado.
Não lhe disse nada, mas ele percebeu que naquele
momento eu não queria dizer nada, especialmente a ele. Sentou - se a meu lado,
agarrou - me na mão e entrelaçou os nossos dedos, uns nos outros. Olhou - me
nos olhos e deu - me um beijo leve e que dizia:"Desculpa".
- Vou contar -
te a verdade. - Disse - me ele. - Há uns anos, apaixonei - me por uma rapariga
chamada Claire. Era bonita e sobrinha de Lady Leonor, uma das mulheres
mais ricas da cidade, naquela altura. Conheci - a numa das suas visitas á nossa
casa, foi amor á primeira vista. Fomos amigos e, mais tarde, namorados.
Tinhamos feito 3 meses de namoro, quando ela veio ter comigo e disse - me que
já não me amava e nunca mais me queria ver. Nesse mesmo dia, ela desapareceu. -
Ele fez aqui uma pausa, respirou fundo e continuou. - Um ano depois,
encontraram - na a 10 km de casa. Nunca se conseguiu descobrir o que se
passara, mas dizia - se que ela tinha sido atacada por um vampiro, devido ás
marcas das persas e porque não tinha sangue nenhum.
- Ela morreu
lá? Se não quiseres, não respondas.
- Não. Disseram
no jornal, que ele tinha morrido noutro lugar e que tinha sido ali colocada.
Mas, logo a seguir a ser encontrada, ela voltou a desaparecer. E desta vez,
para sempre.
- Lamento.
Espera. Vocês eram a única familia de vampiros, em Paris na altura?
- Não. Havia
mais um casal, que tinha uma adorável menina. Mas porque perguntas?
- Eles estavam
em Paris quando ela desapareceu?
- Não. A primeira
vez que ela desapareceu eles tinham ido visitar a familia ao México, e na
segunda vez, estavam de férias na Inglaterra.
- Hum. Então
não podiam ser eles!
- Tens razão.
Os meus pais não podiam, Erik é mau, mas não tão mau assim. Além disso, o Erik
tinha ido fazer uma viagem até Berlim.
- Como eu tenho
a alma dela, achas que eu poderia lembrar - me de alguma coisa?
- Talvez.
- E como é que
eu saberia?
-
Provavelmente, sentias - te mal disposta, magoada, medo, etc.
- Acho que sei
onde é esse lugar.
- A sério?
- Tão sério
como eu ser tua alma - gémea. Agora vem comigo.
- Mas para
onde?
- Já vais ver.
Como estará ela nesta altura?
- Feita em
trapos e ossos.
- Dispensava a
informação.
- Tu é que
pedis - te…
Pusemos - nos de pé e seguimos o mesmo caminho para o
corredor. Estávamos a meio do corredor, quando senti uma pontinha da dor, mas
fui andando. A dor ficou maior, e a ela foi juntar - se a má disposição,
parecia agora que me estavam a torturar. Depois apareceu a tristeza, tão
profunda como o universo.
Quanto mais andávamos, mais me parecia que estava a
ficar sem ar. As pernas começaram a ficar bambas, estava a ficar muito cansada,
o sangue corria com dificuldade, os batimentos cardíacos eram mais lentos e
tinha uma enorme dor de cabeça. Tive de parar, porque senão caía para no chão.
Rodrigo apercebeu - se e parou para me vir ajudar.
Sentei - me no chão, pois já me aguentava em pé. Ele
fez o mesmo e eu olhei para a armadura á nossa frente para distrair - me. No
entanto, verifiquei que esta armadura era diferente das outras, a mão que
segurava a espada, estava virada para cima ao contrário das outras. Havia uma
amolgadela no lado esquerdo e os pés estavam juntos, enquanto que os outros
estavam com os pés afastados.
E existia um círculo por baixo da armadura, como se
houvesse uma porta por detrás dela. Era misterioso, mas não impossível. Como se
tivesse a certeza, fui directa á mão que tinha a espada, e puxei - a para cima.
Depois tentei rodar a armadura, conforme mostrava o circulo, mas não consegui -
a.
Ele mesmo sem perceber, ajudou - me a rodar a
armadura. Juntos conseguimos rodá - la, e descobrimos uma porta. Entramos lá
dentro, e quando nós entramos senti um arrepio a percorrer - me o corpo. Isso
confirmou que o meu instinto estava certo. Ali tinha acontecido alguma coisa.
Existiam teias de aranhas que chegavam a parecer
cortinas, e ratos que pareciam gatos bebés, morcegos enormes e pequenos
pendurados no tecto, aos milhares. E corvos que nos olhavam friamente, mas um
deles veio até mim, e ficou em cima do meu ombro, por uns tempos. Não me
assustavam ou me incomodavam.
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