Saímos para sala e fomos logo para o portão. Pelo caminho a única coisa em que eu pensava era, a resposta da minha avó em relação á “ visita ” a casa dos pais do Erik.
Fomos a minha casa, passei pelo portão, deixei a mala em cima do sofá e depois fui lá dentro buscar o meu telemóvel para falar com o pai. Falei-lhe que ia a casa dos pais do Erik fazer uns trabalhos, ele a princípio não achou piada nenhuma, mas depois lá me deixou ir. Voltei á cozinha, ele veio atrás de mim.
― Avó este é o Erik, Erik esta é a minha avó.
― Muito prazer. – Começou ele.
― Avó, eu queria saber se podia ir para casa do Erik fazer os trabalhos?
― Falas-te com o teu pai?
― Claro, ele a princípio não achou piada nenhuma sobre eu ir a para casa do Erik, mas depois lá acabou por deixar.
― Ah, obrigada pela parte que me toca. – disse ele.
― Desculpa.
― Não faz mal, estás desculpada.
― Obrigada.
― A que horas voltas? - perguntou a avó.
― Lá para as … - Olhei para ele.
― 6 horas. – Respondeu ele.
― 6 horas? – Olhei para ele e voltei a olhar a minha avó. ― Sim, avó lá para as 6 horas.
― Não chegues depois dessa hora. – Avisou a avó, como sempre.
― Está bem. Se quiseres o pai do Erik pode me trazer, queres?
― Claro, era bom, mas já perguntas-te ao pai dele?
― Ainda não, mas se não der para ser assim o pai pode ir lá buscar-me.
― Erik, achas que o teu me traria a casa da minha avó? – Perguntei-lhe eu, enquanto o olhava.
― Sim, ele traz-te, não te preocupes. – Respondeu-me logo ele.
― Ok. Avó, problema resolvido. É o pai do Erik que vêm aqui pôr.
― Vem comer. – Disse a avó.
― Nem precisas de dizer outra vez. Queres comer alguma coisa?
― Não, mas obrigada.
― Tu é que sabes.
Comi descansada. Erik sentou-se numa das cadeiras perto do lume, que estalava de tão quente. Enquanto comia, comecei a pensar se seria mau começara namorar com um melhor amigo. Quer dizer, era bom e era mau.
Era bom porque já nos conhecíamos, e assim não se perdia tempo a saber tudo um do outro. E era mau, porque a relação de amizade podia deixar de existir ou não, era estranho. Esta opinião depende da mente de cada pessoa, afinal todas as pessoas são diferentes.
Namorar com Erik era fixe e um sonho, mas também era estúpido. Sim, estúpido. Afinal de contas ele era o gajo bom e eu era a rapariga vulgar, como antes havia referido. Mas depois, senti que algo mudaria a partir de hoje, o quê, não sei. Mas iria descobrir.
Eram duas horas quando eu e Erik saímos da minha casa. Subimos a rua, passámos para lá do Cravo, e ainda andámos mais um bocadinho. Às ruas eram meio sombrias, mas as casas eram grandes e coloridas. Casas com jardins enormes, muitas flores e enfeitadas com os melhores e mais bonitos efeitos, por isso casas de gente rica.
Mas todas as casas tinham, exactamente, o mesmo padrão de cores, o mesmo tamanho e a mesma forma, excepto uma. Era a última casa, era maior do que as outras, mais antiga, mas também era a mais bonita. Depois senti que já a tinha visto aquela casa, mas não me lembrava onde.
Pensei, pensei e voltei a pensar. Depois fez-se luz na minha cabeça. Eu tinha sonhado com aquela casa. Era ela, a cabeça do leão na porta, as rosas por toda a parte e a semelhança com um castelo medieval, era igualzinha.
Parei ao portão da casa, Erik fez o mesmo. Se ele me tivesse perguntado se já teria visto aquela casa, eu iria responder que não, afinal eu não queria parecer mais louca do que aquilo que já sou.
― Chegamos. – Disse ele, assim do nada.
― O quê? Quem? – Olhei para ele, sem perceber nada. ― Espera, tu disseste “ chegamos ”?
― Sim. Esta é a minha casa. – E apontou para a casa com que eu tinha sonhado.
― A sério? É que eu já a tinha visto.
― Onde é que tu a viste?
― Eu conto-te quando estivermos sozinhos lá dentro.
― Não, eu quero saber agora.
— Mas …
― Não há mas, nem meio mas. É agora.
— Eu sonhei com a tua casa e contigo. Mas tu estavas estranho, mas bonito. Posso contar-te resto mais tarde? É que isto parece-me de loucos.
— Bem que é de loucos, lá isso é verdade. Mas de certa forma até que é normal.
— O quê? Eu acabei de dizer-te que sonhei com a tua casa e contigo, e tu dizes-me que é normal?!
— Sim é normal, pois tu não és a primeira rapariga a dizer isso. Só por curiosidade o que é que aconteceu? No sonho, claro.
— Tenho me dizer?
— Sim, antes que perguntes. Não, não há escapatória possível.
— Bolas! Muito bem, que seja. Eu conto-te o que aconteceu, mas teremos de estar sozinhos e não podes contar a ninguém, nem á tua família. Entendido?
— Sim, capitão.
— Preparar, esquerda, direita, esquerda, direita. – E começamos a brincar aos soldados. — Excelente trabalho, soldado.
— Obrigado, capitão.
Ele abriu-me o pequeno portão de ferro, e depois desviou-se para que eu pudesse passar. Quanto entrei senti-me a voar, como se não ouve-se chão e eu estivesse a flutuar no ar.
O jardim era lindo, cheio de flores de todos os tipos: dálias, malmequeres, lírios, cameleiras e principalmente rosas, de todas as cores e tamanhos. A relva tinha sido cortada, parecendo uma nuvem gigante, fofa verde no chão. As borboletas pousavam nas flores, os pássaros voavam e cantavam, as abelhas polinizavam.
Existia uma mini-escadaria que dava para a porta da casa, a escadaria era feita em pedra e á sua volta crescia heras. Em cada canto da escadaria, viam-se vasos com pequenos amores-perfeitos a desabrochar, lindos e de todas as cores (amarelos, violetas, brancos, pretos e vermelhos).
Subi a escadaria, lentamente, para puder apreciar melhor a paisagem. Havia ao fundo um lago, onde nadavam cisnes, peixes e rãs. Era maravilhoso, pois podia-se ouvir as rãs coaxarem.
A casa era feita também de pedra, mas muito mais antiga, tinha janelas com arcos ao estilo gótico, a porta tinha a tal cabeça de leão. A casa era lindíssima. Haviam sido colocados vasos de flores às janelas. Por cima da porta existiam dois dragões, cujas caudas se união e no centro havia um brasão. O brasão era um escudo no fundo, com uma águia a segurar a cada ponta uma espada, era magnífico. Erik bateu á porta, e esperou um pouco, logo a seguir alguém respondeu:
— Já vai, só um momentinho
.
Ele olhou para mim e eu olhei para e depois desatamos a rir. Rimos tanto, mas tanto que tivemos de nos abraçar um ao outro para não cairmos no chão. Olhávamos um para o outro envergonhados. Eu baixei a cabeça, para que ele não visse a minha cara ficar rosada. Ele agarrou-me o queixo, e levantou-me a cabeça para me fazer olhá-lo nos olhos.
— Não te escondas de mim. – Olhando-me nos olhos.
— Porquê? – Perguntei eu a ele.
— Porquê o quê?
— Porque me tratas assim, com carinho e amor, nunca ninguém me tratou assim até hoje. Lá na escola, só me chamam é nomes, nem toda a gente o faz, mas uma grande parte sim. Porquê?
— Porque para mim, todas as mulheres merecem ser tratadas com respeito, independentemente, da idade, beleza, ou qualquer outra razão.
— Oh! Isso é por respeito. – Enquanto lhe ia dizendo isto, comecei a fazer cara de chateada.
— Sim. – Depois levantou a sobrancelha, como se tivesse visto alguma coisa de estranho. — Tu estás bem?
— Mas tu és parvo, estúpido ou idiota? É que só podes, para ainda não teres percebido.
— Como? O que é que eu ainda não percebi?
— Eu… eu … eu…
— Tu…
— Eu te amo. – Disse eu muito baixinho.
— O quê?
— Eu te amo! Pronto está dito.
Ficou espantado, os seus olhos aumentaram e a sua boca abriu-se fazendo um O. Depois de um tempo assim, os olhos diminuíram e na sua boca formou-se um sorriso caloroso e acolhedor. Estávamos tão bem assim, corpos juntos, cabeças próximas e braços na cintura. Era capaz de ficar assim da minha vida, mas…
— Olá, interrompo alguma coisa?
Olhei para trás de mim, e lá estava uma mulher lindíssima. Tinha cabelos cor de mel, e uns olhos brilhantes verdes esmeralda, era magra, alta e esbelta. Tinha um vestido lilás, o vestido dava-lhe pelos joelhos e tinha um decote em barco. Era um vestido muito bonito.
— Não, mas é claro que não, mãe. – Respondeu ele, já eu demorara muito a responder.
— Mãe? – Perguntei eu a ele espantada.
— Sim, é a minha mãe.
Olhei para a mãe dele ao mesmo tempo que saia dos braços quentes e reconfortantes de Erik.
— Desculpe, é que aqui o tonto do seu filho não me soube apresentar ninguém, e é por isso que eu não sabia quem era a senhora.
— Tens toda a razão, o meu filho é um tonto, mas é um adorável, não achas querida?
— Sim, é um tonto, mas também é um adorável. Já agora chamo-me Cristiana, mas se quiser trate-me por Cris.
— Eu chamo-me Rosemarie, mas a menina trate-me por Rose. Querem entrar?
— Sim, claro Rose.
— Então entrem e vão para o quarto do Erik, que já vos vou lá levar um lanchinho.
Entrarmos para dentro de casa. A casa era enorme. O hall de entrada estava pintado de verde mentol, com alguns quadros nas paredes. A sala, era toda mobilizada por móveis antigos e detalhados, os sofás vermelhos eram de veludo, a parede era creme e o tecto, bem o tecto… No tecto da sala estava pintado um anjo enorme, com uma espada numa mão e um escudo, no escudo estava representado uma águia, mais propriamente Fénix. Fiquei um bom bocado a olhar para o anjo, era espectacular.
— Vais ficar aí o resto da tua vida? – Perguntou-me ele, para ver se eu acordava daquele transe.
— Hum… - Respondi eu ainda meio parva. – Não, não vou ficar aqui o resto da vida.
— Então anda.
Segui-o pelo corredor, pintado com imagens de paisagens incríveis, praias, campos de flores, pores-do-sol, etc. Eram tão prefeitas, que até pareciam reais. Estava tão distraída com as pintoras, que nem reparei que já não vi-a o Erik em lado nenhum. Comecei a correr e ver nas infinitas portas, não o conseguia encontrar, sentei-me no chão de mármore branco. E se ele nunca mais me encontrasse ou pior. Então comecei a entrar em pânico e sentir medo. Sentia-me como uma criança pequena tem medo do escuro. Não sabia o que fazer. Talvez eu devesse começar novamente a procurar o Erik. Não deixaria o medo apoderar-se de mim, afinal de contas eu era uma mulher ou era um rato. Era capaz de ser um rato, pequenino e cheio de medo, mas ainda assim tinha de ter coragem.
Levantei-me, e comecei a fazer o mesmo percurso que tinha feito de volta, pelo caminho eu ia espreitando as diversas portas do corredor. Quarto, quarto, quarto, escritório, escritório, escritório … Era sempre o mesmo “quarto” e “escritório”, até chegar a uma porta que me até á biblioteca. Entrei na biblioteca, pintada de cor-de-laranja claro, tinha duas mesas tão grandes que em cada uma havia oito cadeiras. As prateleiras eram de madeira cara, e existiam dois pisos, as escadas eram ao meio, dando á biblioteca, no piso superior, a forma de U. Reparei que os livros estavam organizados por tipos de livros.
Tirei a mala das costas, e pu-la no chão perto da porta. Comecei, a ver os livros, havia de todos os tipos, desde artes a musica, ciências a tecnologia e de matemáticas a literaturas. Fui directamente a literaturas, que ficava no piso de cima, subi as escadas devagar e a descansa, mas assim que cheguei ao último degrau vi alguma coisa a mexer-se. Fui muito devagarinho, para perto do rapaz, pelo que eu era. Depois parou de se mexer, e aí aproveitei para ver quem era. Era alto como o Erik, mas este tinha cabelos loiros, estava sentado no chão á procura de um livro. Depois sem aviso levantou-se e olhou para mim. Tinha olhos verdes esmeralda, com um pouco de dourado misturado. E foi aí que me lembrei de que era o rapaz giro.
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