domingo, 3 de junho de 2012

Capítulo 12

Reparei que estávamos num antigo e clássico corredor, de grandes pedras retângulas, como as do Egipto, e com algumas Eras (flor) frescas e verdes a crescer nas paredes. O melhor do corredor era que, pelo caminho, existiam apoios nas paredes, com tochas a arder, segundo era mais antiga, para dar luz aquele lugar. O caminho era enorme, pelo que eu conseguia ver, e tinha encostado á parede, uma de cada lado, antigas armaduras de combate. Todas elas eram constituídas por uma espada, um escudo, um capacete, e todo o resto do equipamento, a que tem direito. Estavam bem estimadas, e isso via-se, porque estavam tão limpas, que davam para ver o nosso reflexo, e cintilantes. Para além do equipamento, todas elas tinham uma coisa em comum, o brasão. O brasão estava gravado em todos os escudos, pelo que calculei que noutros tempos a família de Erik tivesse sido da realeza, um lorde, por exemplo.
− A tua família já foi da realeza, não já? – Perguntei-lhe curiosa.
− Sim. O meu trisavô deixou-nos uma grande fortuna e uma casa, em Paris, antes de falecer.
− Levas-me para lá? – Questionei-o. – Mas contigo claro.
− Um dia destes.
− Viva! – Gritei de alegria.
Ele parou de andar, para depois olhar para mim. Tinha no olhar a expressão como dizem: “ ela não regula bem da cabeça ”.
− Que foi?
− Nada. – Respondeu-me ele, á beira do riso.
Virou-se para a frente e riu-se um bocadinho, antes de voltar a andar silenciosamente. Tinha a sensação que algo de arrepiante, mas bom estava para chegar. Brevemente. Provavelmente ainda durante esta semana. E hoje era só quarta-feira.
Continuamos a andar pelo corredor até que este deu lugar a um alçapão, que pelo que se via dava para fora! Subimos umas escadinhas, que davam para subir de dois em dois degraus, já gastas e escorregadias. Erik abriu o alçapão, e saiu comigo atrás de si, para uma…floresta. Uma floresta? A sério? Só podem estar a gozar? Não estão a gozar, pois não? Não, infelizmente, não.
A floresta era, inesperadamente, sossegada. Não se ouvia pássaros a cantar ou uma coruja a fazer: “ U, U, U ”. Nem tão-pouco, se ouvia abelhas a zumbirem.
Existia um caminho de terra batida, marcada com pedras de um lado e do outro, que passava por cima de uma ponte, e posteriormente continuava até uma capela, ou pelo menos o que sobrou dela.
Finalmente, ouvi algo. Era a água a cair de uma cascata, acho eu, e a embater em pedregulhos por baixo da ponte. O som era vibrante, adoravelmente melodioso e apreciável ao ouvido. Os milhares de pingos de água, que caiam suavemente, sobre pedras pesadíssimas e fazendo um som do tipo: “ping, ping, ping ”. Era deslumbrante. Encantador. Esplêndido.
Após ele fechar o alçapão, seguimos pelo caminho de terra de pedras perpendicular para a ponte. A ponte era de tábuas, e com algumas flores a crescer pelo meio. Flores que, com o tempo, foram enrolando-se a troncos, que estava a segurar a ponte.
Cheguei á frente, para ver o que havia acolá em baixo. Era bocadinho alto, deveria ter a altura de um prédio de 4 andares. Quando me aproximei mais, pareceu-me ter sentido a minha alma a arrepiar-se. Era aterrador e sinistro, porque se formos a ver, a alma não se pode arrepiar, mas a pessoa pode. Se alguém cai-se aqui abaixo nem alma se aproveitava.
Lá em baixo, permanecia árvores partidas, com longos bicos virados para cima, e pedras grandíssimas, capazes de rachar uma cabeça a meio. Entre os bicos das árvores podia-se ver… esqueletos. Sim, esqueletos de vários tamanhos e alguns já deformados pelo clima e pelo tempo. As cabeças dos esqueletos olhavam para mim, diretamente para mim, como se eu pudesse fazer alguma coisa por eles. Eles estavam mortos! Mortos! Eu não podia fazer nada! NADA!
Erik voltara para trás para me vir buscar, pois eu ficara a meio da ponte a olhar para baixo. Levou-me pela mão. A minha mão encontrava-se gelada, devido aquilo que tinha visto á pouco, mas a mão dele estava muito quente, até parecia queimar a pele.
Chegamos á ruínas da capela muito rápido. Numa das paredes, ainda, havia vidros coloridos, e neles estavam pintados vários anjos e anjinhos. Numa outra parede havia uma janela, já um pouco danificada, com formas e texturas deslumbrantes e tinha, pouco mas tinha, um cortinado branco com pequenas rosas e jóias bordadas. Tinha-se ainda a parede por altar, era cinzento claro, tão claro como a prata, e decorada com uma camada de ouro, atenção ouro verdadeiro. Mas é que manda pintar uma casa em ouro? Era bonito, mas esquisito.
Em redor das ruínas, cresciam diversas flores, acácias, begónias, crisântemos, gladíolos, miosótis, túlipas e perpétuas. Cada flor era mais bonita que a outra, era uma explosão de cores, existiam flores vermelhas, amarelas, brancas, azuis, rosa, púrpura e laranja. Dava vontade de saltar lá para dentro, e começar a apanhar todas as flores, pelo menos a que conseguirmos.
Logo a seguir, apareceram borboletas, de todas as formas, cores e tamanhos diferentes, e abelhas, que tinham vindo buscar o pólen das flores. Senti-a que era que aquele lugar, provavelmente, tinha mais alegria e cor, agora, do que alguma vez tivera.
− Cris! – Chamou-me ele.
Procurei-o. Estava debaixo de uma árvore de jasmim, o jasmim estava em flor. E por isso era magnífico, ver ele debaixo do jasmim á espera da sua amada. Ah! Que bonito e lamechas.
− Espera por mim!
− Sempre, minha amada. – Respondeu-me ele, para depois me sorrir.
Corri para debaixo da árvore, e sentei-me num dos troncos que a árvore tinha lançado para fora. Erik estava mesmo ao meu lado, com os olhos fixos nos meus, e pronto a contar-me a verdade.
− Antes de começar, quero pedir-te que não me interrompas, ou eu posso arrepender-me do que tinha dito até lá. E quero pedir-te que, acredites ou não, não contes nada disto a ninguém, será um segredo só nosso. – Respirou fundo e continuou. – Tudo o que te irei contar é verdade, a partir de agora. Ok?
− Ok, eu prometo não contar nada a ninguém e não te interromper. – Prometi-lhe eu.
− Lembras-te de no teu sonho eu dizer: “Eu sou um vampiro”? Com certeza que te lembras. A verdade é que, eu … eu… sou mesmo um… vampiro. – Disse-me ele.
Eu queria dizer-lhe que isso era estúpido e impossível. Mas nesse mesmo instante, ele acabou comigo e com o meu coração, literalmente. Mostrou-me um sorriso tão aberto, que eu pode ver as presas. Presas brancas e pontiagudas, capazes de cortar qualquer coisa.
Eu não queria acreditar, mas era impossível, as provas estavam todas ali: a beleza sobrenatural, a força, os olhos que eram avermelhados num segundo e depois eram amarelos âmbar, as presas. Tudo estava á minha frente eu nem sequer desconfiei de nada. Então isso significa que, toda a sua família é vampiros. A família vampe. Que merda de vida a minha!
− Uau! Todo este tempo, eu julgava que os vampiros eram ficção, mas agora já não tenho tanta certeza. – Disse eu, olhando o céu. – Como conseguiste manter este segredo de mim? Como? Como! – Questionei-o. - E porquê? Eu sou tua namorada, e primeiro que isso tua amiga, porque não me contas-te. Porquê?
− Porque eu tinha medo.
− Medo? Medo?! Mas de quê?
− Medo que tu não aceitasses a verdade e me deixasses. Medo que, de repente, tu te fosses embora e nunca mais voltasses para mim. – Respondeu-me, com uma lágrima a cair-lhe pela bochecha.
− Eu nunca, mas nunca, me iria embora e te deixaria. Eu amo-te e, por isso, já mais te faria uma coisa dessas. – Disse-lhe, para depois o ajudar a limpar a lágrima.
− Obrigada.
Agarrou-me pelas mãos e puxou-me para si. De modo, que eu tive de sentar ao seu colo e abraçá-lo pelo pescoço. Ele deu-me, logo, um beijo meigo e amoroso. Logo me recordei de uma coisa muito importante. A idade verdadeira dele. Se ele era um vampiro, e controlado, é porque já foi á algum tempo. Mas á quanto tempo seria? Teria ele 80 anos? 90 anos? Talvez mais? Oh, meu Deus! E se ele tivesse mais de 100 anos? Não, não, não. Isso não pode acontecer.
− Que idade tens, na verdade? – Perguntei-lhe medrosa. – Por favor diz-me que tens menos de 100 anos. Por favor!
− Eu tenho menos de 100 anos. Eu tenho 77 anos.
− 77 anos? A sério? – Perguntei-lhe eu.
− Sim. A sério.
− Ufa! Que alívio. Ainda bem, que não tens 100.
− Porquê? – Perguntou ele. - Só para que saibas é a melhor idade na hierarquia vampírica.
− O quê? Verdade?
− Verdade. É quando começamos a ter mais tino, para a vida. Até lá, falta sempre um parafuso.
− Ah! Ah! Ah! – Ri-me eu. – Então falta-te um parafuso.
− Falta.
− Pois, não te preocupes. A mim faltam-me muitos. – Proferi eu.
− Eu sei, querida.
− Obrigada, pela parte que me toca. – Gozei eu. – Vamos, agora a coisas mais sérias. Como foste transformado? Quando é que isso aconteceu? O que sentiste?
− Calma. Só consigo responder, a uma pergunta de cada vez.
− Podes contar-me como tudo aconteceu? – Pedi-lhe, fazendo olhinhos.
− Eu conto, chérri.
− Falas francês?
− Sim.
− Isso, fica para mais logo. Agora vamos á história.
− Tudo começou em 1913. Era sexta-feira de 1913. Como qualquer dia de Inverno, estava a cair neve branca, deixando Paris transformada num mundo branco, e fazia muito vento.
Meu pai morava numa casa muito bonita, decorada em tons de creme, branco e cor de ouro, era bastante grande e tinha 6 quartos. Quatro dos quartos estavam virados para cada ponto cardeal. O quarto da minha tia Madeleine ficava virado para Este, o da minha tia Beatrice ficava virado para o lado oposto, dando uma paisagens para as ruas movimentadas de Paris, o dos meus avós estava para Norte. Logo, o do meu pai, encontrava-se virado para Sul.
Sobram os 2 quartos que eram os quartos de hóspedes. Um deles situava-se entre os quartos dos avós e da tia Madeleine, o outro era entre os quartos dos avós e da tia Beatrice.
Eram 23:30, quando tocaram á campainha. Todos dormiam, menos o meu pai, que ficava horas a olhar pela janela a ver os cabriolés passar, e á espera de ver o nascer do Sol. O nascer do sol, em França, é dourado e reluzente, como o próprio Sol. Não existe descrição possível.
O meu pai estava louco de curiosidade, por isso, desceu velozmente as escadas, que dava para o hall da entrada, para ver quem seria. As escadas eram muitas, mediante isso, quando chegou lá a baixo, a porta já estava aberta. Ele nem acreditou.
Há sua porta estava um anjo, dizia ele, com longos cabelos negros olhos verdes, alta e magra. Foi amor á primeira vista. Olharam-se nos olhos e perceberam, logo, que eram almas-gémeas. O meu teve que aproximar dela, pois não acreditava que uma beleza daquelas estivesse á porta da sua casa.
− Quem sois milady? – Perguntou-lhe ele.
− Eu sou D. Rosemarie Rashell de Le Marns.
− Porque vendes aqui, milady?
− Não tenho aposentos para ficar, milorde.
− Então oferecer-vos-ei o nosso quarto de hóspedes, para que ficais aqui até arranjardes uma casa, ou algum outro sítio para ficar.
− Muito obrigada, milorde.
− Não tendes que me agradecer.
Minha mãe entrou. Um pouco gelada e molhada, da chuva que caíra de manhã, por isso, meu pai pediu a uma das empregadas, da época, para preparar o quarto de hóspedes, para que minha mãe descansa-se, e um banho para ela se aquecer.
− Oh! Que querido o teu pai foi para a tua mãe. – Comentei eu, não conseguindo aguentar mais.
− Vais voltar a interromper-me, ou eu posso continuar?
− Acho que podes continuar.
− Bom… Aonde é que eu ia? – Tentou ele lembrar-se.
− A tua mãe entrou, e foi para o quarto, porque tinha uma cama e um banho á sua espera.
− Obrigada.
− De nada.

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