Capítulo dois
No dia seguinte tinha logo de manhã a aula de matemática, mas porque é que tinham de inventar a matemática, quem a inventou não devia estar bem da cabeça.
Cheguei a tempo e a horas, como sempre, sentei-me e só depois é que ao tirar o caderno é que reparei que me tinha esquecido dos livros de matemática. Mas assim do nada o meu colega de carteira apareceu, por ele ( não sei como) chega sempre encima do 2º toque. Ele deve ter reparado que eu não tinha livro, pelo que a seguir me disse:
— Não tens livro? – perguntou-me ele da forma mais calma, doce e sensual que eu alguma vez vira.
— Não, esqueci-me dele encima da minha secretária quando ontem estive a fazer os T.P.C.’s.
Mas porque é que , ele quer saber se eu tenho livro ou não. Aqui á qualquer coisa que não está a bater certo. Ele nunca falou comigo e agora, da noite para o dia começou a falar, eu tenho que lhe perguntar o que é que se está a passar.
— Erik, posso saber porque começas-te a falar comigo? É que tu ontem não me ligavas nenhuma, e hoje estas a falar comigo. Passa-se alguma coisa? Oh! Desculpa , eu não me queria me ter na tua vida!
Escondi a cara, entre as mãos para que ele não visse como eu estava. Eu tinha sido mal-educada, sempre me ensinaram a não me meter na vida dos outros se quero que eles também não se metam na minha. Senti-a me estúpida porque estava a esconder a cara, que é uma coisa, que ninguém naquela altura fazia; e sentia-me feliz porque tinha conseguido ser um pouco intrometida, que é uma coisa que eu normalmente não faço, a não ser entre amigos.
— Não, de maneira nenhuma te meteste na minha vida. E sim, passa-se alguma coisa, que é …………..tu não tens livro, e eu posso partilhar contigo o meu. Mas só se tirares as mãos da cara.
Disse aquilo com tanta delicadeza que eu não resisti a rir e a tirar as mãos da cara ao mesmo tempo. Depois de eu me começar a rir, ele também começou, mas sem perceber qual era a piada. Parei de rir e respondi-lhe.
— A sério que não me meti na tua vida?
— Sim, a sério. Já agora do que te estavas a rir?
— Da maneira, como me falaste, com delicadeza, calma e sinceridade. Normalmente a malta da escola fala-me aos berros, com brutalidade e ás vezes com ofensas, enfim. E aquilo de partilhar o livro era a sério ou era só para eu tirar as mãos da cara?
— Era a sério.
Tirou os seus livros e colocou-os a meio da mesa para que nós pudessemos ver. A prof. começou a ver quem é que tinha feito os T.P.C.’s. Eu tinha feito já no caderno por isso não tive falta de t.p.c., mas tive falta de material. A meio da aula, enquanto fazíamos os exercícios, virei-me para Erik e disse.
— Podia-mos ser amigos? Se quiseres, claro.
— Claro que quero, afinal de contas é a única coisa que me falta, um amigo.
— Então está bem, mas vais me contar algumas coisas sobre ti, certo? Comida favorita, livros, música, programas de TV, dia de aniversário, e se não fosse muito falar-me da tua família e a tua vida.
— Está bem, mas só se tu fizeres o mesmo.
— Ok.
— Já acabaram o exercício? – Perguntou a prof. que só por acaso estava mesmo ao meu lado a verificar os exercícios.
— Sim! – Respondemos nós os dois ao mesmo tempo.
Começa-mos a mostrar os exercícios já todos feitos á prof., no fim de ver foi dar, outra vez, a volta há sala para ver se alguém precisava de ajuda. Depois de ela se ir embora, eu e Erik rimo-nos muito daquilo que acabara de acontecer.
Quando tocou para nós sairmos eu e Erik saímos juntos como amigos que éramos, toda a gente ficou a olhar para nós espantados. Fomos para o campo, sentámo-nos nos degraus grandes, bem longe de toda a gente, e começamos a conversar.
— Bem, queres começar tu ou começo eu? - Perguntou-me ele com uma voz doce como o chocolate e querida como um ursinho de peluche. Olhou-me com aqueles olhos adoráveis como quem diz: Vá lá, começa tu! Por favor!
Eu não resisti aquele olhar, tão fofini ( fofinho).
— Vá, pronto. Eu começo, o que é que queres saber sobre mim.
— Tudo. Quer dizer tudo o que tu me quiseres dizer.
— Então não te preocupes, porque se depender de mim, tu irás saber tudo.
— Ainda bem, porque é mal ser amigo de alguém que não se conhece muito bem.
— Concordo contigo, mas olha que isso já me aconteceu.
— A sério?!
— Sim.
— Uau! Quero saber tudo acerca disso e de tudo o resto.
— Está bem, mas não te esqueças que depois és tu quem me vai contar tudo, mas mesmo tudo sobre ti.
— Sim, já sei. Não te preocupes que eu conto, prometi que contava e irei contar. Mas terás de ter paciência e calma, porque eu nunca falei sobre mim a ninguém nem nunca tive amigos.
— Eu tenho, juro. Mas olha que eu ás sou assim um pouco passada da cabeça, ok?
— Ok, eu também ás vezes sou passado da cabeça.
Olhamos um para o outro com os olhos arregalados de admiração e depois ……rimo-nos, de tanta gargalhada que demos, quase nos esquecíamos que estava a tocar para entrarmos, outra vez, para as aulas.
Começámos a levar-nos, já íamos a chegar á porta quando………..
— Namorados,
Simples e casados
Foram há igreja
Beber uma cerveja!
Era o Jorge, da minha antiga turma. Ainda gostava de saber como é que aquele merdas é da minha família, meu primo. Mas enfim é meu primo, é meu primo. E vocês perguntam mas ele é assim tão mau e horrível? Sim, ele é mau, é gordo como uma bola, só tem é negas e é um parvo.
— E se tivéssemos ido, havia algum problema. – Respondeu logo Erik.
— Erik, ele não vale a pena, anda para as aulas. – Foi só o que eu consegui dizer.
— Vai, faz o que ela diz ó maricas!
Isso foi a gota de água, nem tive tempo para o impedir, Erik foi directo ao Jorge e deu um murro, pela cara, tão grande que ele nem se levantou.
— Só te aviso, voltas a ofende-la e a seguir levas mais! Percebes-te ou queres que te faça um desenho?
— Não é preciso, eu percebi, não sou idiota.
— Acho bem.
Deixou o Jorge e veio ter comigo, com uma calma, como se nada tivesse acontecido ali. Como se ele não tivesse andado há porrada com o Jorge.
— Vamos para as aulas, porque já estamos atrasados.
Olhei para ele, nos seus olhos parecia-me ter visto uma sombra negra, mas essa sombra desapareceu tão depressa como apareceu, depois de olhar para ele olhei para o Jorge que se levantava do chão. Erik ter reparado pelo que disse:
— Não te preocupes, ele irá ficar bem.
— Achas mesmo?
— Sim.
— Então, está bem.
Fomos para a aula, quando chegamos a prof. perguntou-nos porque só tínhamos chegado agora, eu não sabia o que dizer, mas Erik inventou que nós tivemos a ajudar a carregar umas coisas e que só agora é que nos deixaram vir.
Não sei como, mas a prof. acreditou em tudo, ficou tão emocionada que nos retirou as faltas de atraso, foi estranho, mas altamente. Acabou a aula e nós caminhamos para o campo novamente.
Durante o resto do dia de aulas estive com Erik, ele mostrou-me um desenho que tinha feito há muito tempo, era um coração com assas. Um coração vermelho cor de sangue e umas assas brancas como a neve, parecia real, lindo e verdadeiro, disse-me também que apenas a especial iria receber aquele desenho.
— Uau! É lindo, como o fizeste?!
— Com um lápis e uma folha.
— Ah! Ah! Ah! Até me esqueci de rir.
— Então tu perguntas-te como, não perguntas-te para eu explicar o processo.
— Pareces o meu pai: “ Sabe suma coisa?” , “Não, ainda não me disseste.” , “ Pronto, queres saber uma coisa?”.
— Faz sentido o que o teu pai diz.
— Tu, estas do lado dele!?
— Sim.
— Agora estou chateada contigo.
— Tu não estás chateada comigo, coisíssima nenhuma.
— Ai não?
— Não, tu estás é amuada comigo, porque eu disse que estava do lado do teu pai e não do teu, não é isso?
— Sim.
— Mas pensa ele de certa forma até que tem razão.
— Sim, de certa forma ele tem razão. Aliás ele tem sempre razão, por isso é que ele é o meu paizinho querido.
— Tu gostas muito dele não gostas?
— Sim, eu amo-o.
— Que bonito, olha já não estás amuada comigo.
— Nunca estive, foi só para ver se dizias que eu tinha razão.
— Há! Isso é batotice.
— Não, não. Isto foi uma batatise.
— Uma batatise? Mas essa palavra existe no dicionário?
— Quer dizer existir, existe, no dicionário é que não.
— Ah! Bem, me parecia.
E nós rimo-nos daquilo que tinhas-mos acabado de dizer, se me tivessem perguntado há meia dúzia de horas se Erik iria ter amigos, eu diria que não, mas agora ……
— Ei! Ainda não me contaste qual é a história da tua vida? Isto é se ainda quiseres contar.
— O prometido é devido. Mas aviso-te já, a minha história não é daquelas felizes, e piegas.
— Oh! Deixa-me adivinhar é daquelas tristes, e com algumas lágrimas.
— Exactamente.
Olhei para ele com cara de cachorrinho mal morto, ele percebeu que não era um assunto que eu gosta-sse de falar, mas que lho iria contar na mesma.
— Bem, tudo começou no dia em que a minha mãe, me contou que eu iria ter um irmão. Fiquei feliz, quer dizer, o meu maior sonho iria se realizar. Mas …
Continuei a contar o resto da história, até chegar ao fim, só depois de chegar ao fim é que reparei que Erik tinha tomado atenção a tudo o que eu disse, como se eu tivesse dito a coisa mais interessante há face da Terra.
Ficámos a olhar um para o outro o resto do intervalo, mas olhávamos olhos nos olhos, olhava para ele via a pessoa mais querida, bondosa, inteligente e bonita que eu alguma vez conhecera.
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