− Erik? – Tentei eu, chamá-lo à razão.
Tão depressa como apareceu. Desapareceu tudo, ele tinha voltado a ser o meu Erik, os olhos ficaram dourados e sorriso voltara a ser acolhedor, estava novamente calmo e com um ar apaixonado. Não sabia o que tinha acontecido ali, mas ele teria de me explicar. Como é que ele num momento parece um monstro e no seguinte parece um anjo? Porque teria acontecido aquilo a ele? Teria ele alguma coisa a ver com o acontecimento? Sim? Não? Talvez?
− Erik?! – Chamei-o, novamente. Logo de imediato ele olhou para mim. – O que aconteceu aqui? E não tentes dizer-me que estive a imaginar, porque eu sei, muito bem, aquilo que vi. Quero uma explicação, agora!
Ele olhou-me com um olhar preocupado e assustado. Reparei que ele queria explicar-me, mas tinha medo do que eu poderia achar. Eu estava mesmo a ver, que ele iria mentir-me, por isso ameacei-o com umas palavras.
− Olha a promessa. Diz-me a verdade, e eu prometo não te censurar. – Declarei-lhe. – Se tentares mentir-me nunca mais te falo.
− Eu quero explicar-te, mas tu podes não aguentar. – Explicou-se ele.
− A verdade eu posso aguentar, a mentira já não posso dizer o mesmo.
− Muito bem. Se quiseres saber a verdade vem comigo. – Respondeu ele.
Fui atrás dele, dê-mos a volta pela casa e entramos pelas traseiras. As traseiras davam para a entrada na cozinha. A cozinha era muito grande e bonita, tinha uma mesa pequena circular e 6 cadeiras, no centro da mesa, havia uma saladeira de fruta com maçãs, peras, bananas, uvas, etc.
Passamos pela cozinha e virámos á direita para uma porta, completamente assustadora, mas ainda assim linda. Era de madeira escura e ferro, por cima da porta encontrava-se uma cabeça de um verdadeiro monstro. Tinha dentes tão grandes como os de um tigre, uns cornos como os touros, tinha olhos negros e frios como os de um tubarão e ainda umas grandes garras parecidas com as dos leões. Aquela porta, estava-me a meter medo, porque parecia que os olhos do monstro me seguiam, para onde quer que fosse. Se dava um passo para traz, ele olhava para mim, se dava um passo para a frente, ele continuava olhar-me. Começava a achar que aquilo era má ideia, mas se eu queria a verdade tinha de ter um pouco de coragem.
Ele abriu a porta e puxou-me para lá, mas eu recuei. Não era só os olhos que me assustavam, mas também as garras. Pareciam querer agarrar-me e nunca mais deixar-me sair.
Ele olhou-me, e sussurrou-me que eu não precisava ter medo, porque ele ia-me proteger. Fiquei mais descansada e fui atrás dele. Ok, isto é uma loucura. Como é que eu vim parar aqui? E por que é que ele me está a levar para ali? O que estaria ele a pensar? Estaria louco?
Depois de passar a porta, vi umas escadas velhas, mais velhas e degradadas do que tempo podia dizer, de pedra e cheias de musgo. Ouvia-se ratos a passar por todo o lado, e via-se, aqui e ali, teias de aranhas. Havia ar gélido que entrava pelos ossos, e que faria qualquer pessoa tremer, tanto de frio como de medo.
De repente, enquanto eu começava a descer as escadas, a porta fechou-se furiosamente. O barulho foi tão grande, que fez eco, e me fez arrepiar de alto a baixo.
Erik dava-me a mão, tal como me prometa, e isso era a única coisa que me impedia de não correr escada a cima aos gritos e fugir daquela casa para sempre. Eu apertava-lhe cada vez mais, e não percebia como é que ele ainda não se tinha queixado.
A única luz era a do candeeiro portátil que ele levava á minha frente, sem essa luz nós, mais propriamente eu, estaríamos perdidos e numa escuridão infinita, muda e tenebrosa.
Há medida que ia descendo aquelas escadas, ia cada vez mais me sentindo sufocada de escuridão e tristeza. Era como se existisse alguma coisa sobrenatural ali, que me fazia sentir triste, desgostosa e amargurada. Eu sentia, principalmente, dor. Uma dor tão forte, que se pudesse, eu diria que ali tinha acontecido, noutros tempos, algo de terrível. Um suicido. Um assassinato. Esse crime, pareceu ter abalado, muito, alguém ou alguns.
As escadas eram em espiral, por isso, demos voltas e voltas e mais voltas. E eu comecei a enjoar-me, felizmente, quando dei por mim estávamos já no último degrau das malditas escadas. Assim que chegamos, Erik largou-me a mão, e desapareceu na escuridão, levando com ele toda a luz que havia ali em baixo.
Olhei á minha volta, não havia luz e estava escuro, muito escuro. Tudo estava em silêncio, não se ouvia um ruído, a não ser o som do meu coração. O coração batia, batia e batia muito ferozmente e aceleradamente, com o medo e o pânico que eu sentia.
De repente ouvi outro ruído. Era pesado mas carinhoso, barulhento mas calmo. Eram passos de uma pessoa, que não estava nada longe, parecia-me a mim, que estava a uns 2 metros de mim. Não sei como consegui, mas comecei a andar para longe. Mas quanto mais eu andava, mais perto eu senti-a e ouvi-a os passos. Então, em vez de eu andar, eu iniciei uma corrida. Corri, corri e corri, não para onde, mas foi o suficiente para deixar de ouvir passos. Pus-me á escuta, não se ouvia passos. Ufa! Que alivio!
Contei até dez, para ver se conseguia acalmar o meu coração e tudo o resto. Logo a seguir, senti uma mão por cima do meu ombro. A mão era grande e forte, de mais para ser a de Erik, e tinha um anel de ouro, com um pequeno brasão. Não consegui ver qual era o esboço do anel, pois estava demasiado ocupada a tentar pensar como iria eu sair dali.
Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Isto não me está a acontecer! Oh, mas quem é que eu quero enganar. É claro que isto me está a acontecer. Que vou eu fazer? Será que irá ele me fazer? Matar-me? Não, não e não. Ou será que me levará para um lugar muito longe dali, para me prender numa cela para o resto da minha vida? Talvez ele seja boa pessoa. Talvez.
Conta até três e depois logo veremos. Um…Um e meio…Dois…Dois e meio…Três.
Ganhei coragem e olhei para trás de mim. Não era Erik, mas isso eu esperava, era um homem novo, com uns 26 ou 27 anos e tinha na outra mão um candelabro aceso, revelando como ele era.
Era alto e magro, e tinha alguma fibra. A cara dele era, absolutamente, espantosa, quase não tinha palavras para o descrever. A cara era creme, de um creme caramelo, e levemente rosada nas bochechas. Tinha olhos dourados brilhantes como estrelas e cabelos loiros, como ouro, pelos ombros.
Estava vestido como uma camisa branca, um casaco e calças cinzentas e um colete preto, estava maravilhoso. O homem apesar de ter, uma cara adorável e bonita, metia-me pavor.
Então, comecei a recuar e para longe dele. O homem não fez nada, ficou ali a ver-me afastar, com o candelabro aceso na mão.
Não sabia onde estava, mas a única coisa que sabia era que, por agora, estava em segurança. Eu sentia que estava em segurança e que estava protegida, mesmo estando no meio do nada e às escuras. Não explicar, mas posso tentar. Tinha a sensação de que tinha alguém, ou alguma coisa, que me estava a proteger com uma espécie de escudo invisível e inquebrável.
Do nada, apareceram duas luzes, eram pequenas e brilhantes, assemelhavam-se aos olhos dos felinos de noite. Estava tão feliz por ver luzes, que nem sequer reparei que se estavam a aproximar. Depois ouvi, um rugido. O rugido era grotesco e horripilante. Lembrei-me que nenhuma luz, que eu conheça, podia fazer aquilo, mas talvez dois olhos pudessem. O que seria aquilo? Seria um animal? Ou seria algo nunca antes visto? O que iria eu fazer? Será que se eu correr, conseguirei escapar? Talvez sim? Talvez não?
Estranhamente recordei-me de uma coisa que aconteceu, não á muito tempo. Os olhos do Erik tinham ficado brilhantes, quando a luz se apagou na sala de aula. Os olhos tinham uma tonalidade amarelada, com um toque de laranja, como se tivesse estrelas dentro dos olhos. Tinha sido bonito, mas arrepiante.
Sem sequer ter tempo de evitar, gritei pelo seu nome, o mais alto que era possível.
− Erik! Erik! Erik! – Eu gritava o seu nome, mas cada vez mais achava que estava enganada. – Erik?
− Eu. – Respondeu-me ele, por detrás de mim.
− Ah! Merda, Erik assustaste-me. Qualquer dia, tenho um ataque cardíaco e a culpa será tua. – Disse-lhe. – Espera ai! Se tu estás aqui o que é que está ali?
Apontei eu, às escuras, para o lugar onde antes estavam os dois pequenos olhos, e que agora não lá estava nada. Nada. Vazio. Era como se tivesse evaporado no ar. Eu com certeza tinha imaginado, porque agora ali não estava nada. Também sem luz não se via nada.
− Erik, podes acender uma luz, por favor?
Ele como bom namorado acendeu, uma luz que a, princípio, fez-me impressão aos olhos, mas logo fiquei boa. Encontrava-me tão feliz por vê-lo que nem acreditava que era mesmo ele. Quando não acreditamos que alguma coisa não é real, o que é que fazemos? Não sabem. Eu também não. Só depois de lhe dar um beijo, é que acreditei. Um beijo pequeno, mas o suficiente para me acalmar os nervos.
− Para que foi tudo isto? – Perguntou-me ele.
− Para que eu tivesse a certeza que eras tu e que não era imaginação.
− E… ainda queres ter a certeza absoluta? – Interrogou-me ele, atrevido. – Eu não me importo de ajudar.
− Atrevido. – Ralhei-lhe eu. – Mas eu gosto.
− Pois ainda bem, porque senão havia problemas.
− Que tipo de problemas? Valentão. – Armei-me eu para ele.
− Muito grandes e perigosos. – Respondeu-me ele. – Agora anda.
Logo fui atrás dele, para desta vez não me perder dele. Ainda não sabia onde estávamos, mas também não queria saber. Estava com Erik e isso era o que, para mim, importava.
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