Capítulo Seis
Não lhe dei tempo de me perguntar onde eu ia, pois já sabia que acabaria por ficar ali, e eu não queria isso. Saí do bloco. Já cá fora, olhei para a janela do Bloco D e vi ele olhar-me. Estava sério e um pouco preocupado. Desviei o olhar, não era a ele quem eu precisava, eu precisava era da Vanessa. Pensei onde ela poderia estar. Deveria estar no campo. Atravessei a escola, e fui para o campo.
Acenei-lhe, a pedir-lhe que viesse ter comigo, ela veio logo. A Vanessa é uma das melhores pessoas que até hoje conheci, têm cabelos loiros acastanhados, olhos castanhos e é um pouco rechonchuda. É a minha melhor amiga deste o 1º ano, é querida, tonta e divertida.
Chegou ao pé de mim, e disse-me olá, mas eu estava tão mal, que assim que ela me perguntou o que aconteceu eu abracei e chorei.
— Queres contra-me o que aconteceu?
— Sim. – Disse-lhe ainda a chorar.
— Então vamos sentamo-nos nos bancos, e depois tu dizes-me o que aconteceu, está bem?
— Está bem.
Já sentadas, ela olhou-me, e percebeu logo por causa de quem, é que eu estava assim.
— Foi ele, não foi?
— Ele, quem?
— Tu sabes de quem é que eu estou a falar. Agora diz-me, foi ele?
— Sim, foi ele.
— Que te fez ele, para te deixar assim?
— Eu conto, mas não podes contar nada a ninguém. Juras?
— Juro.
Comecei a contar-lhe que antes da aula ele me tinha dado uma rosa, inclusive me tinha dito que eu era como a rosa. Depois contei-lhe que nos tinham fechado dentro da sala, e que por causa disso eu e ele tinha-mos beijado. Ela achou interessante a parte do beijo, pelo que me perguntou como tinha sido.
— O beijo foi tanto quente, apaixonado e faminto.
— A mim parece até agora só coisas boas. Por isso, não percebo porque choras.
— É que depois disso, ele pediu-me desculpas pelo beijo. E deu a entender que o beijo não significava nada, percebes?
— Sim. Ah, então era por isso que tu estavas a chorar?
— Sim, foi por causa disso que eu estava a chorar.
— Acho é boa altura para mudar-mos de assunto.
Fala-mos sobre como seria ir de férias de Natal, o que queríamos de prendas, o que levaríamos vestido, etc. Com isto tudo, esqueci-me completamente do assunto “Beijo”. Tocou para a entrada, perguntei para que bloco ela ia, ela respondeu-me que ia para o bloco B. Como eu ia também para lá, fomos as duas juntas para as aulas. Bati á porta para entrar, pedi desculpas á Prof. de Inglês pelo atraso, depois fui-me sentar. A Prof. de Inglês era uma pessoa altamente, têm cabelos castanhos arruivados, olhos verdes e usa óculos, é alta e magra, e também é bonita.
Tirei as coisas de inglês, e enquanto as tirava olhava Erik. Ele olhava para mim, com um olhar de cachorrinho mal morto. Com aquele olhar ficava mais bonito e adorável do que o normal, só me apetecia era …beijá-lo. Então voltou-me á cabeça o assunto que eu tentara esquecer durante o intervalo. Voltei-me para a frente e tomei toda a minha atenção á aula. Falámos de comida saudável e exercício físico. Ouvimos algumas regras de alimentação e depois fizemos uma tabela, para mais tarde nos ajudar a aconselhar alguém do que deve ou não comer. Foi muito divertido.
O juramento |
Tocou para a saída, mas como sempre eu sou a ultima a sair, Erik esperou por mim á porta. Não percebi do que é que ele estava á espera, mas se esperava que eu começasse a falar com ele, ele que esperasse sentado. Saí da sala, sem lhe dirigir a palavra, mas ele mesmo assim veio atrás de mim, como um guarda-costas. Fui para o campo e sentei-me nos bancos grandes ao canto, ele fez o mesmo. Reparei que queria dizer-me algo, mas que estava há espera da hora certa ou das palavras certas para o dizer.
— Muito bem, fala. Sei que queres dizer-me algo, por isso diz.
Olhou para mim, abriu a boca mas depois voltou a fechá-la, como se voltasse a pensar nas palavras certas. Depois de pensar, falou:
— Quero saber porque saístes da biblioteca triste, e depois na sala não me dirigiste a palavra? – Disse ele com um ar de sério.
— Porque… - Olhei para ele e pensei: Ele precisa de saber. — Não sei te devo dizer a verdade ou mentir-te. O que tu preferes?
— A verdade, sempre.
— Bem, eu saí da biblioteca assim porque…fiquei triste de o beijo não ter significado nada para ti. Quando aquele beijo para mim, era ouro. Sabes porquê? – Olhei para
ele nos olhos, bem nos olhos. — Porque até hoje nunca ninguém me tinha beijado, em que situação fosse. Foi por isso que eu saí da biblioteca assim.
— Ok, percebido. E parece estranho que ainda, ninguém, te tivesse beijado até hoje.
— Não gozes. Toda a gente me olha como se eu não valesse nada.
— Eu não acho isso de ti, principalmente de ti. Acho que és uma pessoa muito corajosa, mas preferes não mostrar a tua coragem.
— Tu podes achar isso, mas os outros não o acham.
— E que importam os outros, esqueci-os, pois não precisas deles. Bem vamos falar de outro assunto.
— O quê, por exemplo.
— E que tal, falar sobre a tua ida a minha casa, conhecer a minha família.
— Estou muito entusiasmada.
— Então, já voltamos a ser amigos?
— Claro. Erik posso pedir-te um favor?
— Sim, claro. O que precisas?
— Quero que me prometas, por tudo o que for mais sagrado para ti, que nunca haverá segredos entre nós. Independentemente do segredo, deves sempre contar-me tudo , e eu a mesma coisa.
— Porque queres que eu prometa uma coisa dessas? Achas que eu tenham segredos para contigo?
— Não. Mas é que, ao menos assim saberíamos mais um do outro.
— Muito bem. Eu, Erik Adrian, juro nunca ter segredos para com a minha melhor amiga. Agora tu.
— Eu, Cristiana Teodoro, juro nunca ter segredos para com o meu melhor amigo.
— Diz-me uma coisa? Ainda estás chateada comigo?
— Não. Mas gostava que tu percebesses que eu, às vezes, fico triste com coisas simples, como a nossa discussão.
— Está bem, prometo não me esquecer disso.
— Tenho a certeza que não te esquecerás, mas provavelmente do toque para entrada talvez.
— Como assim?
— Caso não tenhas reparado acabou de tocar para a entrada.
— A sério? Não, não pode ser, eu teria dado por isso.
— Pois, mas desta vez não deste, porque já são 12 horas.
— Então corre para a aula. Vamos.
— Vamos depressa, porque a seguir temos de ir a tua casa para avisar a tua avó de que vais para minha casa fazer trabalhos.
Chegámos atrasados, como era de esperar, mas inventámos a desculpa de que tínhamos ido comer e que o bar estava cheio. Sentámo-nos e toma-mos atenção á aula. Começámos a dar o “ Tesouro” de Eça de Queirós. Demos o conto e depois tivemos de inventar uma notícia sobre o conto.
Enquanto metade de mim tomava atenção á aula, a outra metade estava a pensar. Será que a avó deixava? Sim ou não? Se disse que sim, como seria a casa e a família dele? Seria uma casa grande ou pequena? Moderna ou antiga? A certa altura deixei de pensar nisso. Eu tinha de ser optimista e pensar que iria vê-la.
— Vamos começar a escrever. Escreves tu ou escrevo eu?
— Escrevo eu e tu ditas, boa?
— Boa.
Escrevemos, brincámos e rimos daquilo que escrevia-mos. Depois de escrita a notícia, eu fui ter com a Prof. para lhe mostrar se estava bom. Ela disse que, sim estava muito bom. Voltei a sentar-me e comecei a tagarelar com Erik.
— Como são os teus pais? – Perguntei-lhe eu.
— A minha mãe é uma querida e gosta de toda a gente. O meu pai também é um querido, mas também é um pouco vingativo.
— Porque dizes que o teu pai é um pouco vingativo?
— Porque se alguém tentar fazer mal á sua família, ele arranja logo maneira de se vingar dessa pessoa.
— Já me descreves-te os teus pais, mas como é que o teu irmão?
— Ele é um doido e um divertido, mas também é sério quando é necessário. Adora partir corações e praticar futebol.
— Uau! Ainda bem que tu és do Benfica.
— Porque dizes isso?
— É que se fosses do Porto, o meu iria odiar-te o resto da vida, por seres tripeiro.
— Reparei que tu falas da tua mãe como se ela tivesse sido a pior coisa que te aconteceu na vida. Mesmo de tantos anos ainda achas isso, porquê?
— Porque eu nunca me conformei com aquilo que aconteceu, pois para mim aquilo não fazia, nem faz, sentido o que aconteceu.
— Porque, para ti, isso não faz sentido?
— 1º Porque nós sempre fomos uma família feliz, nunca ouve grandes discussões ou brigas, nunca; 2º Porque o meu pai nunca lhe fez mal, gritou com ela ou até mesmo lhe levantou a voz, as discussões eram sempre resolvidas pacificamente; e 3º O meu pai não merecia, sempre trabalhou para nos sustentar, nunca íamos de férias para podermos poupar algum dinheiro e muito raramente passeávamos para podermos passar mais tempo em família. E é por isso que, para mim, que o que aconteceu não faz sentido algum.
— Bem, eu não conheço o teu pai, mas pela maneira como o descreves parece ser uma pessoa com bom coração.
— Sim, ele tem um grande coração, mas prefere não o usar muitas vezes, pois tem medo de se enganar na escolha e ser traído novamente pela pessoa que ama. E além disso tem um humor fantástico.
— Agora tenho vontade de conhecer o meu pai, para ver se o que dizes é verdade. – E piscou-me o olho, como forma de brincadeira.
— O que vou ver quando for a tua casa?
— Vais ver o salão de música, a biblioteca, a sala de estar, o jardim, a varanda do jardim, o meu quarto …
— O teu quê?
— O meu quarto, onde julgavas tu, que nós iríamos trabalhar.
— Na biblioteca.
— Não. Além disso, da janela do meu quarto, pode-se ver o lago, com cisnes, peixinhos e rãs.
— Ah, ah, ah! A sério, rãs?
— Sim, rãs.
— Cisnes, são animais lindíssimos, e além disso são animais que simbolizam o AMOR. Acho maravilhoso acordar, olhar a janela e ver cisnes logo de manhã.
— Pois são. Já agora qual o teu animal preferido?
— Tubarão branco.
— O meu é o tigre branco ou o leopardo.
— Oh! Que fofinho! Também gosto de tigres e leopardos, mas o meu preferido é mesmo o tubarão branco.
— Normalmente as raparigas gostam é de focas, gatinhos, golfinhos, mas tu és diferente gostas de animais mortíferos. Fora esse, quais são os animais que gostas?
— Lobos, cobras, aranhas, gatos cães, morcegos, e … não me lembro de mais nenhum.
— Lobos? Cobras? Aranhas? Morcegos? A sério?
— Sim, a sério.
— Cães e gatos ainda se percebe. Mas lobos, aranhas, cobras e morcegos é … é… de doidos.
— Eu sou doida.
— Isso sei eu.
— Muito obrigadinha.
― De nada.
― Tens umas piadas muito giras.
― Herança do meu querido pai.
Enquanto falávamos, toca para a hora do almoço. Tudo arruma e devolve as coisas emprestadas, o silêncio de antes transforma-se na feira.
― Lemos as notícias para a próxima aula. – Disse a prof.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Se tiveres coragem de um filho da trevas, comenta os capitulos.